12.12.05

Perfil do direitista tupiniquim, em dez traços

Este post é dedicado a dois grandes amigos... Thales e Marília. Companheiros fiéis de pupunha.
A festina é lente, mas não é lerda!!! hehehehe...

10. Ao contrário dos direitistas gringos, europeus ou mesmo mexicanos – virulentamente patrióticos ao ponto da xenofobia – o direitista brasileiro odeia o Brasil. É curioso, porque nenhuma direita traz tantas marcas do seu lugar de origem como a brasileira. Até quando fala de Chesterton.

9. O direitista brazuca sofre de profunda nostalgia. Entende-se: ele um dia teve Carlos Lacerda e Paulo Francis. Hoje deve contentar-se com Diogo Mainardi e outros funcionários da Veja. Ou seja, já completa uma geração em total orfandade de gurus. Andam tão carentes que seu mais novo mestre é um auto-intitulado "filósofo" de cujo trabalho nenhum profissional de filosofia jamais ouviu falar.

8. Os direitistas tupiniquins em geral se dividem em dois grupos: os raivosos e os blasé. Aqueles vociferam em blogs, lançam insultos, ordenam que os adversários se mudem para Cuba. Reagem histericamente à própria infelicidade. Os blasé, em busca de uma elegância copiada de algum filme gringo, intercalam em suas frases expressões inglesas já completamente fora de uso. Reagem esquizofrenicamente à sua infelicidade, à sua incapacidade de reconciliarem-se com o que são.

7. O direitismo brasileiro costuma ser um grande clube do Bolinha. Tem verdadeiro pânico das mulheres, especialmente das mulheres fortes, seguras, profissionalmente bem-sucedidas. Estas últimas costumam ter o poder de fazer até mesmo do blasé um raivoso.

6. O direitista tupiniquim adora lamber as botas de Bush. Numa época em que até vozes do conservadorismo tradicional norte-americano reconhecem o caráter da mentirada (link via Smart) sobre a qual se sustenta Bush, o direitista daqui ainda defende o genocídio praticado pelos EUA no Iraque.

5. Por alguma razão, o direitista brasileiro sente-se profundamente incomodado com o cinema iraniano. Talvez, se a história do menino que perdeu um sapato fosse contada em inglês, com um orçamento milionário, dois personagens maniqueistamente representando o bem e o mal, algumas explosões e um final bem moralista, o direitista tupiniquim o saudaria como uma pérola.

4. O direitista brazuca adora declarar-se “liberal”. Sonha com o capitalismo preconizado por Adam Smith, quem sabe nalguma ilha onde ainda exista “livre competição pelo mercado”. Afinal de contas, no capitalismo realmente existente o que vemos são quatro megaconglomerados controlando toda a indústria musical do mundo, ricos impondo barreiras e tarifas aos produtos dos pobres, oligopólios praticando dumping, guerras de rapinha para saquear petróleo dos outros. Ao ser confrontado com esses fatos, o máximo que o direitista aceitará é que no “verdadeiro” liberalismo essas coisas deverão ser “corrigidas”. Talvez no dia em que o direitista consiga impor seu modelo de capitalismo à ilha de Robinson Crusoé.

3. O direitista tupiniquim tem pânico de discutir questões relacionadas a raça e etnia. Quando aflora qualquer conversa sobre a discriminação racial ou sobre o lugar subordinado do negro na sociedade, ele raivosamente acusa os interlocutores de estarem acusando-o de racista. Para essa “vestida de carapuça” Freud inventou um nome: denegação. É a atitude preferida do direitista quando o tema é relações raciais.

2. O direitista tem verdadeiro ódio da MPB. Vocifera, por exemplo, contra o silêncio de Chico Buarque sobre o caixa dois do PT, ao mesmo tempo em que idolatra pop stars americanos que silenciam sobre o genocídio no Iraque. Faz sentido: as áreas nas quais, em quantidade e em qualidade, o Brasil tem a mais respeitável produção do mundo desmentem a ficção auto-depreciatória com que o direitista tupiniquim transfere para o país o seu incômodo consigo mesmo.

1. O direitista brasileiro louva e idolatra o mercado, mas curiosamente pouquíssimos espécimens dessa turma se estabeleceram no mercado com o próprio trabalho. É mais comum que herdem um negócio do pai, recebam via jabaculê o emprego que terão pelo resto da vida ou, mais comum ainda, que concluam a quarta década de vida morando com a mãe e tomando toddyinho.

(agradecimentos a Idelber Avelar - Blog Biscoito fino e a massa - de onde surrupiei esta lista..)

3 comentários:

Anônimo disse...

Simplesmente impagável, morri de rir com a história do toddynho...
Este "decálogo" em contagem regressiva (10, 9, 8...) que sacada!!!!
Ah...fui lá no blog dar uma expiadinha...viciei...
bjus.

Anônimo disse...

Caro sr Almeida,

Não vou vociferar sobre a direita ou a esquerda. Conforme é de seu conhecimento, sou um desses direitistas que vossa senhoria apregoa serem os mais incompetentes seres desta Terra. Entretanto, mantenho as posições contrárias à esquerda, seja ela tupíniquins, italianas, russas, cubanas, etc. Continuo achando que o homem jamais perderá o instinto escondido do capitalismo. Ele quer manter, a menos que ele seja levado a acreditar que isso não existe mais.

Porém, não vim ao Pupunha para contrariar ou afirmar estas teorias sobre o capitalismo ou sobre o socialismo. Vim apenas conferir as últimas novidades no pupunha. E devo afirmar que estou começando a gostar dos seus textos. Agora estão ganhando molho ideal para este blog. Aliás, era esse tipo de abordagem que sempre quis ler aqui. Mais convencidas e convencíveis. Ajuda a ensinar.

Apesar das posições políticas inversas, posso dizer que seu blog está muito interessante. Mas essa sua perspectiva me fará transcrever uma entrevista lá no meu flogão. Porque de certa forma senti que tem algo de hostil aqui. Sei que não é intencional, mas...

Bom, meu caro amigo, espero que você tenha um feliz ano novo, afinal, não sei quando é que nos falaremos de novo. Mas quero lhe desejar a saúde para que continues atualizando este blog. E para continuar essa sua jornada, de guerra e de paz. E sucesso, para que possa trilhar nesta vida os caminhos corretos.

São os meus votos...


Thales Bruno

Arthur Almeida disse...

Bom amigo Thales,
Não há de minha parte nem deste bolg hostilidade nenhuma com relação a você ou suas idéias. Há apenas idéias diferentes, visões diferentes da mesma moeda; mas sem que uma incapacite a outra.
De forma alguma pretendo entrar em conflito com alguem aqui muito menos com um bom amigo, como é seu caso.
Perco a piada. Não o amigo.
Feliz ano novo.