4.8.09

Decisões…

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Numa fria tarde de novembro de 1961, quatro rapazes caminhavam à beira do rio Mersey. Ares preocupados, o vento batendo em suas franjas, de vez em quando olhavam para os navios que entravam pelo porto de Liverpool.

Eles lembravam-se, quem sabe, do tempo em que tinham que tocar oito horas para ganhar uns cobres num clube de Hamburgo. Tempos difíceis, é verdade, mas pelo menos não havia a tensão de se ter que tomar decisões, como naquela hora. Então um deles resolveu falar:

"Vamos encarar a realidade, rapazes, isso não vai dar certo." Era Pete Best (o terceiro aí da foto), um rapaz alto, forte e bem apessoado, o baterista do grupo. "Estamos na estrada há anos e até agora só estamos perdendo tempo. Agora, trabalhar para um empresário bicha é o fim da linha."

"Pode dar certo", murmurou George sem muito entusiasmo.

"Eu não acho que devamos desistir", completou Paul. "Acho que ainda podemos ganhar dinheiro com isso."

"Quem poderia substituir você?", completou John, sempre mais frio e pragmático que os outros.

Pete esperava algum tipo de adulação. A pergunta de John deixou-o um pouco incomodado. Ainda assim, não perdeu a pose:

"Pode ser aquele narigudo, o Starkey".

Ninguém respondeu nada. Continuaram caminhando com os rostos enfiados nos capotes. Best, ainda mais incomodado com o silêncio, resolveu abrir o jogo. Disse que sua mãe lhe havia proposto tomar conta de um bar em Penny Lane e ele estava disposto a aceitar. Os outros talvez tivessem ficado com alguma inveja daquela estabilidade financeira tão precoce, mas nada disseram.

O que é bom para nós, pode não ser para você", sentenciou George com ares de filósofo oriental.

Pete animou-se com a resposta e, com pena dos amigos, procurou encorajá-los. Disse que o rock'n roll estava no fim, que ninguém poderia substituir Elvis e que eles deveriam investir na música italiana, estara é que seria a música dos anos 60. No fim, despede-se dos amigos com um abraço.

"Boa sorte, Pete", disse John.

"É isso aí", falou George.

"Obrigado pelos conselhos, mas vamos ficar mais um pouco", finalizou Paul. "Talvez a gente ainda ganhe algum dinheiro com isso."

Pete soltou um longo suspiro. Estava com uma sincera pena de seus amigos. "Vocês é que sabem, rapazes, mas não vão dizer que eu não avisei..."

 

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No outro lado da cidade, um narigudo, dono de de um arrojado topete e com a barba por fazer, espera sua namorada sair da manicure lendo sobre a apertada vitória do Blackburn sobre o Warrington pela segunda divisão do campeonato inglês.

"Esperou muito, Ringo querido?"

"Já lhe disse, Maureen, não gosto que você me chame de Ringo. A última coisa que me lembro quando olho no espelho é de um pistoleiro mexicano."

"OK Rick. E quanto àquele negócio, já decidiu?"

"Mamãe acha melhor eu aceitar aquele o emprego de fiscal de vigilância sanitária. Ela disse que eu sou um cara de muita sorte por conseguir passar nesse concurso."

"E a música, Ringo."

"Rick."

"Está bem. E a música, Rick?"

"Não vamos discutir isso de novo. Eu entendo tanto de música quanto você entende de corrida de cavalos."

"Mas você está ficando melhor. Ontem, em Mr. Moonlight você manteve o compasso até o final."

"Você está falando para me agradar."

"Não acho certo que você desista de um sonho."

Richard estava em dúvida. Se havia algo que ele detestava era decepcionar alguém. Sua mãe queria o emprego público, sua namorada queria a carreira artística. No entanto, Richard planejava levar Maureen a um drive-in naquela noite. Se a desapontasse, poderia ter que ficar em casa ouvindo um concerto da BBC ao lado de sua mãe.

"Está bem, vou tentar mais um pouco na música. Ano que vem vão abrir outro concurso mesmo."

"Eu te amo, Ringo."

"Não me chame assim, eu detesto apelidos ridículos."

Direto do Blogdotorero.uol.com.br.

6 comentários:

Bruno_Philósopho disse...

Tai, fostes pescar alguma coisa do baú dos Beatles... E pescou bonito! Quem saberia dessa história que não fosse no blog desse sujeito ai? Se não fosse você, eu pelo menos não saberia...

Viu onde podem chegar as possibilidades de você continuar escrevendo aqui neste espaço? Sempre vem alguma coisa interessante e boa. Sempre com a cara do Arthur. Eu acredito no seu texto e no seu faro.

Por falar em pescaria, você bem que poderia pescar outra pérola dos grupos musicais do mundo. Ou então criar algo como uma "novela", com uma pitada de bom humor dos seus textos. Não precisa fazer isso em um dia. Basta se esforçar um pouquinho a cada semana e depois vai ver a criação no final de um ou dois meses...

Entendo que você não consiga passar muito tempo planejando este blog por causa do trabalho. Mas acredite: para quem gosta dele, ficar um ou dois dias sem ler uma pérola sua, quando se está acostumado, é uma eternidade...

Como já devo ter dito em outra ocasião, você faz falta aqui, Arthur... Não é à-toa que lhe cobro isso!!!

Grande abraço, amigo!

Arthur Almeida disse...

Thales,
Grande idéia.. vou garimpar pra montar os posts pra hoje e pro fim de semana e vou ver se já consigo alguma história boa...

Abração,
E siga por aqui!

Allan Almeida disse...

Ueba....mano voltou a escrever, agora já tenho texto bom pra ler, enquanto olho telas e telas de fundo preto, olhando servidores pra lá, processando algo que ainda entenderei :-)

Já que lá não dá pra postar(big brother bloqueia blogger[bbbb ahahahhaa], mando de casa e na madruga mesmo :-)

Pobre Best!!!

Bruno_Philósopho disse...

Sabe o que eu estava vendo, meu amigo? Eu tenho postado mais aqui do que no meu Blog. Dou mais atenção ao seu blog do que ao meu próprio. Não sei porque mas é o que vi... Já chorei muito nestas páginas do teu blog, e até ganhei uma fama: "Este blog sem o Thales me enchendo não seria a mesma coisa". Ou seja, sou eu quem te empura para a guilhotina da escrita. Sem a minha "forcinha" você não escreve nada! Aliás, se não fosse eu, este blog tinha morrido faz tempo!

Que bom que eu te encho, né? Pelo menos assim você escreve alguma coisa para o povo daqui, que não tem como ter notícias suas de outra maneira.

Bom, vê se pelo menos dá uma passada por aqui de tempos em tempos para nos falar sobre você, ao menos. Porque ninguém merece ficar com um espaço na memória e um vazio na tela do computador

Arthur Almeida disse...

Mano,
bom saber que voce é leitor aqui tambem..hehehe
preparei uns posts, mas tive um problema com meu notebook neste fim de semana e não pude atualizar mas hoje a noite ja atualizo aqui e tento manter voces como leitores mais um tempinho...
Grande abraco,irmaozinho!

Arthur Almeida disse...

Thales,
é verdade.. sua presenca faz mesmo diferenca,.. e ate ja o considero socio do blog. O que vc acha de comecar a escrever por aqui tambem ?
te coloco com todos os poderes de greyskull pra isso..

E pago com um picole de pupunha, pode ser ?